domingo, 30 de dezembro de 2007

O Fado Vadio fez-me Sua Letra


Acordei com a melódica sensação de tristeza a ecoar pelo quarto, como um eco vadio de um fado traçado a fogo sobre a pele, respirei ao redor do resto do mundo como se soubesse de cor este cheiro a lágrimas que me entrava nas vísceras e me falava de mim a mim própria.
Vadio! Procurou um canto onde se acomodar e fez-me Sua Letra, bailando sobre o seu Xaile vi-me assim poeta e muito antes de o ser, já antes da manhã me cantar a geada ao ouvido, eu cantei baixinho à luz das quimeras, os sonhos das eras já mortas pelo caminho.
Híbrida sensação me acarreta o espírito, quase doentia, quase sinistra o mais que suficiente para me acanhar a alma, já temerosa, já assustada, já cansada, já teimosa, já despida do pecado original, deitada a um canto, sacudindo o desencanto, sonhando ser gente ainda pelo vale da fantasia andando como vadia.
... e o Fado Vadio fez-me Sua Letra, nem a vagarosa quietude da manhã o pode deter, entrelaçando-me o corpo como se já estivesse morto, tomando-me a alma como se esta já não me pertencesse, fazendo de mim seu significado, tão duro, curvado já pelo trago amargo do sofrimento.

2 comentários:

Luis Ferreira disse...

Tu escreves bem, um reflexo de uma alma que sente, uma leveza que nos faz voar e sonhar...

Adorei o teu texto e o blog

Anônimo disse...

nossa, suas fotos são ótimas! ;~~