sexta-feira, 21 de março de 2008

Fecho as portas

Fecho as portas a esta casa....

A minha nova casa é preto no branco ou branco no preto...

http://margaretedasilva.blogspot.com

Amo-te!



Sei-o bem, não to dissera antes porque ainda há barreiras para o tédio do além sentir, baixinho suspirara tanta vez a nova aurora que aparecia confusa nas minhas manhãs. Anunciei os meus passos antes de tos contar em segredos inquebráveis, depois despi os sufocos e os suspiros e como se fossem quedas de água deixei que me percorressem o corpo inteiro onde tu moravas. Agitei os meus olhos castanhos em direcção às tuas mãos, questionei-as acerca das sua carícias mas elas nem para mim falaram. Enfim soube, sempre soube, que o limite entre o que é de mim e o que é de ti era mais ténue do que a barreira que quebrava o horizonte. O meu horizonte és tu entre rasgos de pequenez. A minha grandeza reside no melhor de ti, a minha força está no teu sorriso, a minha simplicidade é a breve e ligeira quietude ternurenta da tua vida.

Sei-o bem, não to dissera antes porque ainda há barreiras do além sentir... amo-te!

terça-feira, 18 de março de 2008

Porque choras meu amor?


Porque choras meu amor?
Já não falas.
Já não danças.
Já me esqueces.

Porque choras meu amor?
A tua cara é um rio sem peixes.
Tenho medo que me deixes
assim como te entristeces.

Meu amor... meu amor...
minha esperança está gasta
pelo tempo que se arrasta
nesse corpo que mereces.

Porque choras meu amor?
Já não falas.
Já não danças.
Já me esqueces?

Porque choras?
Porque choras?
Porque choras?

segunda-feira, 17 de março de 2008

Vejo-te ir...

Cai a chuva pelo vidro da minha janela e com ela algumas lágrimas se soltam dos meus olhos, estava a tentar não chorar mas não é possível porque os meus gritos de revolta magoam o coração apertado de memórias e lembranças boas.
Sei que é hora de seguirmos as nossas vidas, cada um segue os seus caminhos que em nenhum outro momento se hão-de cruzar, sei que tens de ir por ali com um sorriso no rosto e que eu devo ir por aqui com um sorriso no rosto, a sapiência é a consolação deste coração dorido.
Não posso deixar de chorar um pouco, só pela melancolia ou até mesmo a nostalgia de te ver partir com o bom tempo e de me deixar de novo embriagar pelo espírito dos que na solidão se desenham.
Nunca estarei sozinha porque te sei aí e me sei aqui mas o fim inevitável fez com que eu mais uma vez sonhasse essa dura realidade, apodrecer sozinha a um canto. Como eu gostava que me prometesses que ficarás a meu lado até ao fim da vida, como eu gostava que me prometesses que sempre estarás aí por mim, como eu gostava...
Sacudi as melodias da tristeza e deixei-me levar pelo breve passar dos dias, bebo um chá, festejo a tua ida porque sei que é a melhor coisa a ser feita agora, entre nós apenas a amizade fica dançando à luz de um amor que ruiu, nenhum de nós sabe explicar como mas sabemos que ruiu apenas.
Fico aqui. Olho o fim da rua e vejo o teu vulto a afastar-se devagar, quando olho para o meu lado ainda aqui estás, podes ir em paz que daqui não sais, dentro de mim ficará o teu lugar para sempre...


[ promete-me que ficas a meu lado até ao final da minha vida! Sim?]


Vejo-te ir...



... umas quantas lágrimas rolam pela minha face.

domingo, 16 de março de 2008

Abraça-me até morrer

Abraça-me até morrer meu amor, já não sei que paragem é esta apenas sei que te espero aqui, um dia chegarás com os braços cobertos de carinhos para me entregar e então não valerão por nada aos meus ouvidos as outras vozes e hei-de ouvir apenas as nossas preces, abraça-me até morrer!
Prego rasteiras aos abraços dos outros, é nos teus braços que me encontro e me sou, só nos teus braços ecoa a verdade em sorrisos e em gestos eternos. Sucumbo à minha vontade de ir e espero-te ainda, na memória os teus beijos e o compasso desesperante dos teus passos, um solfejo de sonhos, um arpejo de lembranças, o amor em partituras defenidas de imensa quietude e calmaria.
Abraça-me até morrer meu amor,
os teus braços são a minha casa,
o que os outros podem ver
não é nem metade do que eu posso e nem um quarto do que tu podes.



Descasco os meus sentidos só para me ser possível espremer mais um pouco deste amor tão grande que gastei aos poucos, enquanto te foste.

Eles suicidam-me...

Ontem falei-te de um nome e não quiseste saber, parecias oco por dentro como se eu desconhecesse já que eras oco ou que nada dentro de ti tinha um sentido qualquer que não fosse morte. Ontem precipitei-me a contar-te os meus segredos mas tu não quiseste saber nem mesmo quando eu abri o meu coração e o pintei de negro, aí inclinaste-te para trás e adormeceste, ressonavas como um porco!
Ah a semelhanças entre a mesma espécie é terrível!

Neutralizei a minha dor e chego aqui com o coração preenchido pelo teu espaço, escrevo-te para entender que razão de ser é esta, que mundo é o meu, que espaço tão natural, tão vindouro. Curvo então os meus pecados sob a falésia e num rápido movimento atiro-os junto com o meu corpo.

A morte faz todo o sentido quando dentro e fora de nós mesmos já nada nos sabe a vida.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Não sei ser poeta

Quando escrevo poesia não me dou,
Faltam-me as palavras interdictas,
Faltam-me as rimas esquesitas,
Falta tudo, falta tudo o que sou,

Não sei ser poeta, não sei...
nem agora nem nunca hei-de saber,
tenho o que digo e o que fica por dizer,
tenho o que dou e o que já dei.

Não sei como se faz para ser poeta
nem tão pouco sei o que falta ou resta
para ter esse dom dentro de mim.

Mas sei que só ser eu assim me basta,
é a escrita, é a escrita que me arrasta
para longe deste antecipado fim.

Vamos?


Por tudo o que dás, como se fosse possível dares-me tanto já que tanta distância nos separa os corpos. Por tudo o que me estás, na alma dos bem amados que se consomem com asneiras e pensamentos negativos, porque me estás na brevidade e efemeridade do presente preenchido com o teu riso. Mas haverá melhor sentimento que este? Veio sem nos apercebermos, ficou dentro de nós e foi crescendo como uma semente que foi largada à pressa crescendo, selvagem, na margem de qualquer sítio.
Por ti esperava eu todos os dias, gritava até às vezes no meu silêncio o castanho dos teus olhos reflectido.
Chegou a hora de me esquecer de um tudo e de partir por aí contigo a segurar a minha mão, balançando-a,levando-a contigo para onde quer que vás. E do baloiço da vida fazemos nosso encosto perpétuo, despimos os corpos, libertos de todo o mundo, inquietos de nós mesmos, prendemo-nos a cada traço, em cada passo, cada espaço de vida que nos ocupa a vontade. Abraçados fazemos ecoar a voz do amor nos caudais do futuro tumultuoso, beijamo-nos como nunca haviamos beijado ninguém, o suor nas palmas das mãos, as veias dilatadas pelo desejo do ter e do querer, do desejar.
Por tudo isto e por muito mais, um para sempre, para sempre nós a intensificar a vida com os nossos sentimentos mútuos.
Vamos?

sexta-feira, 7 de março de 2008

O Lamber da Dor

Lambes a dor que te cai nos cantos da boca, parece-me sangue mas sei que nunca sangras a dor que não sentes. Ainda te amo mas não me quero dar ao luxo de continuar a teu lado, morres-me em cada abraço, em cada beijo e já não encontro maneira de enfrentar toda a morte que te tenho.
Morreste já em mim, vadio és de ti, não espalhes mais a tua híbrida emoção, nem eu me vou comover, se tiver de ser passo-te a ferro e embarco para bem longe.
Tocas-me a pele gasta pelo suor dos dias e da vida em redor, despes os meus medos e os meus segredos com as tuas mãos de seda, flores de veludo bordadas na palma, demasiadas sombras indesejadas, agitadas e caladas como mortas. O meu corpo mata-te com a falta de desejo que me preenche. Nada é de ti!
Pisas as sementes do que já fora e nunca há-de ser, porque amamos sempre quem nos trata mal? Julguei acreditar na tua legítima defesa e estava errada, quem não for culpado que atire a primeira pedra. Tenho as mãos nos bolsos do corpo nu, cheio de pedras prontas a serem atiradas. a realidade descontorcida de tudo, as arestas mal deliniadas, um cubo a fazer o pino.
Morres-me nos dias, nas horas em volta, no fogo do tempo, na semente da vida. Morres-me e mato-te em tudo o que tu vês, ouves, tocas, provas e sentes... obstinado crente, entediado fiel!

sábado, 1 de março de 2008

Quando um adeus é o último adeus...


Tremo ao ouvir-te falar todos os nomes que amaste. Ouço e sigo calada pela mesma estrada, pecado que cometeste. Sofro depois a vaga superficie calma dos gestos enamorados, soltos, amarrados apenas nos pulsos de um sentimento cortado. Silenciado vais ao meu lado como se soubesses já o destino vão, no lugar do coração encarcerada a saudade azeda dos momentos que não tivemos.

Sempre vais?

Fazes-te de desentendido enquanto eu choro ao teu ouvido as pragas que me lançaram, só a híbrida reacção dos corpos em constante apeguidão se faz trémulo impulso a um querer desnorteado, ambos sabemos e mesmo assim nos calamos com medo de nos envolvermos.

Sempre vais?

Cai-me a vida ao chão com os teus olhos sobrepostos aos meus, ris-te sozinho e na minha face deslavada um barco contra o cais, já me repugnas e ainda nem me ouviste chamar-te os mais feios nomes, pela distância, nas mãos da ausência, sacode o pó deste deserto.

Vai...

Às tantas vais-te embora sem saberes o que me vai no coração.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Música de Lágrimas




Saltas comigo?

Anda, dá-me a tua mão, nada temas, num canto oco sei que muito escondes, no outro canto cheio de vida tu sempre te revelas... há dentro de ti, assim como dentro de mim, a ânsia de ir, de ficar, de partir, de saltar.

Saltas comigo para este mar de letras?
Agora? Já? Saltas comigo?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Queres Voar?


_Porque estás aos saltos em cima do banco? Não vês que parece mal! Sai já daí.

Maria sempre fora educada com rigidez e, apesar das chamadas da atenção dos seus familiares, era assim que gostava de educar também os seus filhos. Nunca entendia nenhuma brincadeira, raramente os deixava ser crianças nem tão pouco acreditava nesse conceito. Ao ver Simão assim aos pulos em cima do banco de jardim não pode conter a sua fúria, envergonhada, deixou seu filho embaraçado agarrado a nada, sentado apenas, de pernas cruzadas, mão esquerda segurando o queixo e a face lavada em lágrimas.

_ Então Simão? O que se passa?

Henrique, um tio que Simão gostaria de ter tido, o único capaz de o entender, às vezes aparecia quando não era bem vindo. Amigo imaginário? Talvez! Para Simão era seu único confidente, o seu conselheiro.

_ A mãe não entende aquilo que me pediste para fazer...

As lágrimas corriam-lhe rosto abaixo, umas atrás das outras, deliniando o caminho à frente das bochechas cabisbaixas, a boca senti o sal das lágrimas e um gosto amargo a cobrir os espaços em seu redor, o coração batia acelerado, às vezes descompassado mas nunca silencioso. Assim era Simão, um menino habituado às emoções, passional, cândido, pequena pedra no meio de um coral mas a pedra mais brilhante, a mais especial.

_ Há muitas coisas que deves entender Simão. Se a tua mãe não acredita no que te disse não tem mal, um dia há-de acreditar e então aí irás sorrir ao vê-la saltar ao teu lado em cima do banco de jardim.

Henrique tinha sempre as palavras certas para proferir mesmo quando o caos e a incerteza teimavam em habitar aquele coração pequenino.

_ Achas que ela um dia também vai conseguir?

_ De certeza que vai! Porque não? Achas que ela não será capaz?

_ Acho que ela não quer!

_ Não podemos obrigar ninguém a fazer aquilo que não quer. Quando ela quiser ela irá conseguir. Basta que acredite!

_ Henrique!?

_ Sim Simão!

_ Tu conseguiste logo na primeira tentativa?

_ Não! Voar é complicado até quando se é criança, ainda com o coração puro e limpo de preocupações.

_ Como voam os anjos então?

_ Já te havia dito antes. Eles conseguem voar porque não se preocupam! Tu não te deves preocupar com o facto de voares ou não, um dia saltas e as tuas asas de anjo se elevarão para te levar onde tu quiseres.

_ Sabes onde eu queria?

_ Não. Não sei!

_ Queria fazer um piquenique com a mãe em cima de uma nuvem.

_ Quem sabe um dia não a levas.

_ Sim, quem sabe!

A boca de Simão não conseguiu disfarçar o suspiro e o sorriso que o sucedeu. No seu pensamento a imagem de um piquenique perfeito, com os bolos caseiros da mãe, com o sumo natural de laranja, com o baralho de cartas e o papagaio que tanto gostava de lançar ao vento.
Saiu a correr, debaixo do braço o papagaio, à sua frente a rede do parque, lá em baixo, a mais de 25 metros o rio. Simão subiu a rede sem medo, destemido mirou o rio com a bravura de um super-herói, Henrique voava dali para ali dando instruções de voo, lá trás, debruçada sobre a toalha de piquenique Maria preparava as sandes de geleia, as preferidas de Simão.

_ Mãe! Mãe!

_ Que foi Simão?

_ Olha como eu sei voar!

Maria correu e correu e correu e à sua frente o verde da tenra erva parecia infinito, alcançando a rede viu o seu filho voar os 25 metros com o papagaio torneando ao vento, a água recebeu o corpo com aplausos salpicados, os olhos de Maria encheram-se de sal, de água, a face empalideceu, o corpo decaiu.





sábado, 23 de fevereiro de 2008

David e Golias *

Quero um charro, voar sobre o eco vadio e vadiar como um glaciar. Quando não estás por aqui e nem sabes onde está o mundo é mais fácil ligares a televisão e não ouvires o que te chega do outro lado. Penso se existo e logo me calo porque não sei se existo e a existência se resume à necessidade de vida. Há vida? Quero ser um glaciar! Poucas são as palavras que ainda me consigo ouvir a dizer, a voz que parte o espaço e o tempo é uma miséria. Quero um charro que abafe de uma vez esta tristeza, que apague este cheiro a alcóol. Fazes minhas as palavras que não entendo. Eu sou muito mas pela anestesia do ser pensante que ao ócio se entrega deleitosamente por preguiça. Sim, sou uma merda. Quero um charro. Duas baforadas só para ti e continuo. És uma merda também. Areia do mesmo saco. Barro do mesmo pote. A tua gravata não te melhora a retórica. Não importa o quanto com ela esganes a tua garganta. E a tua voz. É quase pena o que sinto deste cenário e de nós figurantes. Dá-me para retumbar na auto-mutilação espiritual.
Sabes o que penso da tua gravata prateada sob o fato negro? Miséria! Queres um charro também? Precisas de ouvir as calamidades que dizes, liga a televisão. Abafa o tempo que é teu por preguiça ou ócio a merda que for. Se quiseres apago as tuas pegadas pelo mundo não quero que restem dúvidas. Se quiseres, és um glaciar. Perfuma agora a tua raiva com um cheiro a verdade a rondar a distância. Sabes o que é a verdade? és um mendigo! Sabes o que eu sou? Um rei que quer um charro! Partilhamos? Duvido. Não partilho nada com quem arranca. Valeu pela temporária tentativa de sucumbir à altivez da tua poderosa negra magnificência. Mas eu sou o fraco do tabuleiro. Infelizmente não me posso reconduzir ás mesmas histórias de sempre. À mesma música que passa na rádio. Nem ao cicerone propagandista da novela das 5. O meu fumo é o meu reino. As minhas putas a que chamo sentimentos vão-se vendendo por pouco mas sem nunca se dar a ninguém. Por outras palavras: eu sou problema meu. Não das multinacionais. Pintamos a mesma tela mas com cores diferentes, eu pinto-a com os pés descalços e tu com uns sapatos de verniz quaisquer comprados numa loja de requinte. Julgaste requintado? Julgaste sabedor? Que sabes tu da vida afinal? Sou eu o Ulisses e tu és um suporte partido de toda a minha magnitude e força. És um vulto pertinente do que nunca foras, julgaste ser porque espalhas a verdade pela tua voz supérfula e eu com os pés descalços balanço nos braços da vida, os meus braços estão aquecidos pela minha verdade e os teus? Aquecidos pela tua mentira. Olha-te o reflexo nos charcos onde bebo? Qu'é de ti afinal? Qu'é da tua triste vida? Perdeste-a num jogo de poker onde achaste que não tinhas nada a perder. Só a gravata te faltava pôr na mesa, sabe-lo bem. A racionalidade é a tua mão favorita, sabemo-lo bem também, mas na hora da verdade, eu consigo fazer dela muito mais minha do que tu. Sou se quiser, na análise um glaciar mais frio do que aquele que tu és em vida. Mas ainda é a emoção que caminha os meus passos. Ainda sou eu que fumo a droga, não a droga que me fuma a mim. Não deixo ainda a vida passar-me ao lado em nome do grandioso nome de uma garrafa de whisky velho com muito alcóol, pelo seu colateral efeito de libertação.
Sabes o qu'é da minha vida? É tudo! Ainda sou eu que traço o meu rumo, balanço os meus pés descalços na verdade que tu choraste. E tu choras? Acredito que não chores: a emoção já te não ocupa o corpo nem os espaços em volta e o resto? A tua existência resume-se à ínfima verdade absurda... Ainda há verdade? Já gastaste tudo! Até o teu nome já está gasto nas esquinas do que pensas ser, o que de ti fica é a incorrecta persistência em querer ser algo mais que não o que a ti pertence. Fica-te pouco nas mãos, no final de contas. Bem vistas as coisas tens ainda menos do que eu, que tenho o meu lazer psicotrópico e a minha luxúria ocasional. Tal dá-me tempo para ser livre. As tuas letras bancárias não são senão empréstimos. Que sabes que terás de pagar e para os quais terás de pedir mais empréstimos. É um ciclo. É um jogo. Viciante e viciado. Quem é o drogado da história, então? Devias fumar do meu charro e menos do teu tabaco
Estou estoirado pelas balas que me lanças, no fim de contas fazem ricochete em mim e é a ti que matam. Queres partilhar o meu charro pá? Afinal qu'é da tua vida? Afinal qu'é dos teus limites? És um pobre descalço neste chão de renúncias que criaste. Vê lá onde pões os pés tens os pregos que te pregarão na cruz espalhados pelo teu chão. são tantos! Aqui não há espaço para os teus queixumes de rico desgraçado, não há espaço para filhinhos da mãe, só há espaço para filhos da puta.
Fumas?
Sangrarás por redenção com os pregos do teu ódio que te prendem ao chão. Rezarás e desperarás por uma coroa de espinhos que te faça rei. E senhor. Implorarás aos espectadores, inclusive para ressuscitar ao 3º dia a fim de poderem votar em ti para umas próxima eleições. Vale tudo, tudo, tudo para a construção de um novo império, uma revolução, uma nova ordem mundial, ainda que tudo o seja à escala regional de uma freguesia ou uma aldeia. Tu, cara a cara com o meu fumo, dizes-me um sorriso rasgado com uma palmadinha no ombro. Mas eu bem sei da faca que seguras por detrás das costas. É tudo apenas mera propaganda, 'amigo'.
És Judas! Enforca-te! Faça-se assim a Tua vontade. Seu Traidor de meia-tijela. Dás-me um beijo? Que beijo é esse? A redenção? O perdão? "Perdoai-lhes Senhor porque não sabem o que fazem!"... queres que te acene? Tenho mais o que fazer. Já superei os meus limites e as minhas sombras, já me cansei da tua presunção e das tuas manias. És um infiel, um traidor! Maldito! És a merda que condenas! Nos media! Na praça pública! Aos sete ventos! Na tua casa de classe média! No teu salão de tertúlia na Foz! No tasco da tua aldeia quando vais falar de bola e de gajas! Quando apanhas a tua bebedeira para te sentires um ser humano! Quando ajudas a puta da Cruz Vermelha, para desviares os seus fundos à primeira oportunidade! Na ironia com que te ris dos teus e dos que gozam contigo amaldiçoando entredentes a democracia que te impede de os aniquilar! Mas suspiras interiormente. Sabes perfeitamente que os fins justificam os meios, e meios não faltam para a estrada que pretendes trilhar pela portagem mais cara. A tudo isso, eu vejo. Perante todo tu, eu estaco. Fumo. Revolto-me. E aponto. Sei, como o sabe, quem sabe de História, que todas semelhantes hipocrisias terão um dia de acabar.
E findo este canto ás paredes de todas as almas, até da tua!, depois francamente seguro de novo o copo entre as mãos e olho o cinzeiro onde repousa o meu restinho de charro. Está para acabar este meu estado absurdo mas inteligente de ser. Está para acabar e já sinto falta dele, até no ar o fumo quase se evapora mas eu continuo fiel ao que sinto e penso, fiel ao meu dono, cão vadio abandonado na rua. O Bom Filho à casa torna. Adormecem-me as mãos... adormecem-me os sentimentos e as pálpebras quase se fecham enquanto oiço ao longe a magnitude de todos os limites sãos. Bato palmas ao teu ódio enquanto se me esquecem os gestos. Berro os meus dissabores e solto os meus uivos à lua dos teus desejos já saciados. Quero-me de volta! A mim e aos meus!
O baú da memória encerrará o restante.






* escrito pelas minhas mãos e pelas mãos do Street Fighting Man, pode encontrar textos dele em http://umbrellameansfreedom.blogspot.com

Saudade de um Portugal

Abro a janela e respiro um ar qualquer que não me motiva, fecho os olhos e antes que me cheguem às narinas os cheiros do mar exalto a luz dos meus olhos sobre a cidade que se agita na minha frente, ocupo o espaço com os pedaços de vida que ainda te sobram.
Onde foste Portugal? Levei-te a sair por aí com o meu coração afinado e nem uma nota tocaste do teu verdadeiro fado. Qu'é de ti Portugal pequenino, país à beira mar plantado? Onde estão as tuas vozes? Fechadas na escumalha que se deita no teu chão? Onde estão os teus sentidos? Perdes-te? Onde? No chão que aos teus olhos piso sem saber uma direcção, um rumo. Um barco contra o cais, miséria a vir e a ir, balançando nos sonhos de quem sabe que não és tu isto, nunca io foste, indo e vindo como o mar que te banha aqui neste canto tão teu que não sei porque não o entendes se é o único que te pertence. Deixa-o vir sobre ti, cair em ti como se fosse por ele que esperasses. Deixa-o só porque estás trilhado pela solidão demasiado vaga dos dias. Oh Portugal, Portugal!
Saudade de um Portugal, aquele que ali longe ainda canta o fado pela voz lusitana, aquele que deixa ainda o cheiro a mar preencher as suas ruas, aquele portugal que guardo só nos meus olhos fixos no eco vagabundo de um céu que me pertence como me pertencem os passos sempre seguindo numa única direcção, a tua.
Saudade que marca a fé que ainda tenho pelo meu Portugal.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

na noite passada





Na noite passada mandei-te um beijo,
não o apanhaste,
fui apanhá-lo ao Tejo,
adormeci embalada pelos teus olhos
mas de não tê-los não me chegaram os sonhos,
corri em vão nas escadas do teu ser,
chorei depois a verdade de te não ter.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pluma


Por onde andas?

Onde o vento te leva?

Quando o teu caminho se cruzará de novo com o meu?

Dás-me um sinal?

Faz-me cócegas no rosto e cai nos meus braços.

Quero-te ainda... sempre!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Letras Soltas


A dada altura já não me interessa qual foi o teu caminho ou qual foi o meu, porque não nos cruzamos ainda ou porque esta vida ainda não nos colocou no mesmo caminho, a dada altura só penso no amor que sentimos e isso me enche o peito de ar puro. Lacrimejante ainda sinto o meu coração pulsar com as tuas imagens, meras recordações de outras vidas.
, saltos sobre o azul disperso de um mar eterno de amor, pulos sobre o pote de ouro no fundo do arco-íris, ouro sobre o azul? Sim, porque não?!
Creio que foi o teu sorriso cativante ou então as mãos, as mãos de quem já sabe de cor o meu toque sem, no entanto, nunca me ter tocado, as mãos de um caçador de estrelas, de um acendedor de candeeiros, de um iluminador de vidas. Creio que, no fundo, foi tudo, foi um mundo inteiro, perfeito, único, foi tudo isso que nos fez de repente ganhar asas e voar sobre as nossas vidas passadas, de mãos dadas com o pôr-do-sol e com o azul do céu, descobrir por fim a plenitude do sentir, o ritmo acelerado de dois corações que batem em uníssono.
Que esta carta seja uma prece, uma voz que se eleva em silêncio por cima do barulho que se impõe, uma prece por ti, por mim mas, sobretudo, por nós, porque muito temos ainda por viver embora nos pareça impossível.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Última Carta

Tentei escrever-te esta noite para que não restassem dúvidas, amar-te pode ser sinal de tudo ou pode ser sinal de nada, um olhar trespassado é quase idêntico a um olhar equivocado, se me amas sê gentil comigo e contigo próprio e entende que não sei porque o sinto mas que sinto a ânsia de algo mais, mesmo tendo-te a meu lado. As tréguas estão lançadas, o baralho está por partir, é a tua vez, fá-lo por mim, só preciso que me sejas forte o suficiente para me corrigir se estiver errada ou fraco o aceitável para me convenceres a permanecer na tua vida.
Pode parecer egoísta querer que a Primavera aconteça só na minha varanda, sem ter com quem partilhas as flores, mas não o é, se pensares bem descobrirás que a Primavera acontece mais dentro do coração do que fora do corpo, se pensares bem descobrirás que as tuas flores por mim murcharam e que já não existe Primavera na nossa varanda, não estamos na estação errada, o tempo não se apressou nem recuou, a vida é simplesmente composta pela irremediável mudança.
É difícil fazer as malas e abandonar-te, por isso, por ser assim tão fraca, preciso que as faças tu por mim e que saias tu da minha vida, pela porta da minha casa. É inaceitável considerar que depois de tanto tempo o amor estagnou mas acontece, um raiar íntimo, inteiro e uno fez com que despertasse em mim a eterna necessidade de sentir, viver, agir, como se a diferença e a aventuras fossem as minhas práticas diárias.
Gosto de ti, não o poderia negar, nem nunca o negarei, dizer que és demais para mim é uma hipérbole, chamar-te bonito é patético, dizer que me cativas é eufemismo mas isso só não chega. Como eu gostava que chegasse! Como eu gostava de acenar a bandeira branca da paz a este impulso tão verdadeiro, tão real, tão assustador que nem me consigo conformar, confortar, não consigo sequer sentir o meu coração bater-me no peito.
É assim, este é o fim, um adeus não seria justo mas um até sempre nunca é demais...

Sabes onde eu estou, ao alcance de um ou dois passos apenas, sentada na cadeira ao lado.





sábado, 26 de janeiro de 2008

Meu amor...

Meu amor é fogo de hoje,
de um passado que não foge, de um futuro que virá,
meu amor é fogo posto,
sobre a face, sobre um rosto,
lágrima que não secará.
Meu amor é mês de agosto,

Meu amor é alvorada,
mágoa quase passada, barco que encalha no cais,
meu amor é madrugada,
um pedacinho de nada,
manhã sempre que te vais.
Meu amor é cigarrada.



quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Cantarei

Cantarei de uma só vez antes que me falte o ar....




Cantarei até que a voz me doa, cantarei uma canção qualquer presa na calçada e evitarei tropeçar no passeio ou cair da escada. Soltarei uns gritos de revolta, uma faceta qualquer cheia de coisas que me revoltam, cancelei as contas bancárias e sorri sem saber porquê, fiz-me à estrada e inventei um assobio novo com a força dos lábios.
Na transversal segredos que se dizem devagar como tontos...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Secretas Faltas




Não sabes a falta que me fazes, quando a chuva cai atrevo-me a recordar-te e há um vazio tão grande no peito que eu respeito e não quero apagar de mim, caio então como uma folha largada ao vento e em desassossego deixo-me esbater contra o muro de secretas faltas que me preenchem.
Quisera eu ter a força de um vulcão em erupção para poder enfrentar tudo e todos, ser como a maré tempestuosa e assustar quem for mais frágil, mas não passo de uma triste pessoa que nem força tem para batalhar pelo que verdadeiramente quer.
Hoje estive contigo, cada vez mais, sempre, esta solidão a arder-me no lugar do coração, esta ausência, esta ausência escura, tão escura como a noite, comos os dias que se seguiram e ainda seguem, ocos, depois de te abandonar, assim sem mais nem menos como se fosse fácil abandonar quem amamos.
São secretas faltas, labirintos de dor onde me perco, enigmas de sofrimento e atrás de mim só estás tu, do meu lado só tu, na minha frente só te vejo a ti, sempre, sem falhar dia nenhum, uma memória perpétua, recordação eterna no meu coração.
É difícil abandonar quem amamos só porque a vida assim o quer, escolher o caminho mais fácil sem batalhar mas, e quando estamos perdidos da vida e de nós mesmos? Quando nos sabemos envenenados pela desilusão, quando nos sabemos mal-tratados pela voz do coração.
Corre-se pelas estradas, pelas ruas sem saída, cai-se e fica-se no chão cheio de feridas, feridas que são secretas faltas escondidas em nós, nas nossas entranhas, cada vez mais fundo que passam despercebidas a quem nos rodeia. Dói, não dói?


... a quem o dizes!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Se por acaso me vires por aí


Se por acaso me vires por aí faz de conta que não me conheces, que nem te lembras das cores que o céu tem nas noites em que não adormeço, que a noite é fria quando eu me levanto para beber um copo de água. Então faz de conta que não me descobres entre a multidão que conheces, fala sozinho e diz que me esqueces quando eu passo em tons de silêncio. Olha para mim mas não me gostes enquanto as gotas te rolam na face, finge que és tu que moras agora bem longe de onde eu vivo. Se por acaso a vontade for tanta que não consigas mais ver-me, tapa a tua face com as mãos e vais ver que o que parece não é; é muito simples querer a partida fácil é não concretizá-la mas nos meus olhos já soa à ventania e ao gelo desta longitude.
Se por acaso me vires por aí inventa uma morte à pressa, se tu chorares não chores por mim chora apenas pelo meu avesso, vais ver então que não sonhamos juntos porque é demorada a espera, quebra a esperança, solta os teus medos, não desesperes por mim. Apaga a fogueira deste sentimento, finge-me longe de ti, então faz parecer que o céu mudo já fala para ti.
São lágrimas que caem em mim mas é melhor assim, para ti, para ti, para ambos, se o sorriso te gemer de dor conta anedotas a ti próprio, depois finge que és actor e não te demores a inventar um novo papel, rói o mundo que era nosso e a esperança que ainda te aquece o corpo.

Sabe apenas que ainda penso em ti apesar de te querer longe de mim.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Para Ti


*foto de Ricardo Tavares


Escrevo num compasso melódico de mim,
vagueio sobre a escuridão dos dias, teimo sempre,
longamente, demoradamente, teimo.
O fim desconcertante está perto,
páro para te ver, respiro para te escrever e continuo,
o segredo é meu, teu e dos deuses que nos acompanham as baladas,
desmanteladas, desorganizadas, pausadas e arrepiadas
como a boa música deve ser.
Para ti não há nada mais que sirva,
nada mais que diga servirá para que te comtemples,
para que entendas que a perda é terrivel companheira,
à minha beira encontrarás o que procuras.
Não te afastes tanto, um dia quererás voltar e não saberás onde estou,
um dia quererás acordar desse pesadelo teu,
um dia quando os teus olhos se abrirem
os meus poderão estar já fechados.