quarta-feira, 18 de julho de 2007

Lágrimas no meu funeral....



Chorem, comecem já a chorar, em breve o meu corpo morto cairá no vosso chão pintado de prata, chorem tudo já, de mansinho e deixem que a tristeza da perda vos envolva antecipadamente.

Hoje quero morrer,
matar-me de tristeza,
e sofrer, e doer, e gemer,
no silêncio, no grito inaugurado,
no castanho dos olhos já chorado,
na vergonha de me ver morta já.
Hoje quero morrer,
matar-me de dor,
e correr, e perder, e sofrer,
no campo humedecido,
no beijo entontecido,
na podridão do dia não esquecido,
na loucura de uma morte antecipada.


Chorem.
Amanhã distribuirão abraços e beijos de compaixão pela minha família coberta de perda, esquecerão as mágoas do passado e virão de luto ao meu funeral, não comprarão flores porque sabem que só quero uma rosa branca, uma única rosa branca... fingidos! Chorem hoje já! Fingidos...

Um comentário:

Joaquim Amândio Santos disse...

Que belo que é ousar a amazónica ferocidade de batalhar até à morte do nosso oponente!
Eis que a vontade de viver aniquila o esgar raivoso da tristeza, essa guerreira maldita que nos separa do reino da felicidade.
Clama-o seu, reclamamo-lo nosso!